quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu sei que sou um T


Eu devia ter entre 5 e 7 anos de idade. O meu irmão já tinha um Atari 2000 e ofereceram-lhe um Sinclair Spectrum 48k. Eu também queria um computador. Para jogar jogos claro. E foi o meu pai que me ofereceu o meu primeiro computador. Um Timex 2048. Era lindo... muito mais louco que o Spectrum 48k do meu irmão. Não tenho a certeza disto que vou dizer mas acho que aquele Timex, que ainda guardo e funciona, foi comprado em 2ª mão... e é claro que por si só não constitui problema. Não tenho nada contra comprar equipamento bom em segunda mão. Mas a verdade é que o meu computador tinha uma avaria e raramente conseguia carregar jogos nele. Ironia do destino... esta foi a melhor avaria de toda a minha vida, pela qual não voltaria atrás...

A minha história assemelha-se em muito com a história do meu povo. A história repete-se. 500 anos antes os Portugueses partiram para o mar em procura de novos mundos e novas rotas comerciais. E sejamos francos... por muito que achemos que somos descendentes de valorosos exploradores e navegadores, estes não o fizeram por serem corajosos ou destemidos... fizeram-no porque não tinham alternativa. Um país rodeado por Espanha e mar... e Espanha não era opção. Se queríamos sobreviver, teríamos de entrar pelo mar. E comigo foi o mesmo. O meu computador não carregava jogos... a minha única alternativa foi programar nele.

Vamos então assumir que eu tinha 7 anos de idade. Tinha o meu primeiro computador que não carregava jogos e um manual do computador que explicava os princípios básicos de programação em "BASIC". Comecei a lê-lo e a fazer pequenas rotinas. Delirava com o que conseguia fazer. E desde então soube que quando crescesse queria ser programador de jogos. Acho que este foi o meu único sonho. Nunca quis ser bombeiro, nem polícia, nem astronauta. Sim... queria poder voar e cheguei a rezar muitas vezes ao menino Jesus para me dar umas asinhas de anjo que sobrassem lá no céu. Cheguei a prometer que não contava a ninguém mas acho que nem isso o convenceu.

Lembro-me vagamente de ter encontrado um livro de programação lá em casa, que seria certamente do meu irmão, e mais tarde comprei outro de gráficos 3D em "BASIC". Anos passaram-se e apareceu o primeiro computador lá em casa. Um Compaq Presario 433. Eu queria programar, instalar coisas, ligar-me a BBS, experimentar... e fui abafado e castrado pela ignorância daquela casa. Ignorância essa que perdura.

Por referência de um grande amigo, comprei aos meus 14 anos um livro intitulado "Tricks of the Game Programming Gurus", o qual devorei, apesar de não conhecer a linguagem "C++" nem o conceito de programação orientada a objectos. No secundário tive 3 anos de informática onde aprendi "GW-BASIC" e "Pascal". E apesar de ser dos melhores alunos nesta matéria, ainda não me sentia conformado. Aos 19 anos de idade comprei o livro "Teach Yourself C in 21 Days" o qual li de fio a pavio, sem nunca ter um computador onde testar o que ia aprendendo. Nesta altura servia à mesa num hotel em Londres e vivia num pequeno quarto alugado com outras 7 pessoas.

Foi só aos 23 que voltei a pegar em qualquer coisa relacionada com informática. E por mão do meu irmão que tanto insistiu comigo para que voltasse a estudar.

"Toma... tá aqui um folheto da escola ali de cima. Eles têm lá cursos de computadores e aquelas coisas que gostas. Vai até lá e inscreve-te. Mas faz qualquer coisa... pelo menos tira o 12º ano!" - disse ele.

Só lhe posso agradecer. Se naquele dia ele não o tivesse feito, provavelmente hoje eu ainda estaria a trabalhar como estafeta ou cozinheiro.

Os anos passaram-se. Terminei o meu curso técnico-profissional de informática. Comecei a trabalhar como administrador de redes, o que não poderia estar mais longe daquilo que queria fazer, mas era uma porta de entrada para este mundo. E foi essa porta que me levou à empresa em que estou. Sim Randy... tive sorte!

Hoje em dia trabalho como "Web Developer" numa das maiores agências de marketing online em Portugal. Trabalho com criativos, designers, pessoal de video, 3D, flash e outros programadores como eu. Adoro o ambiente, os meus colegas e o meu trabalho diário. Vibro com os desafios, com as novidades e com a inovação. Amo a cultura de meritocracia que se vive e a postura de uma empresa multi-nacional. É provavelmente o mais próximo que estarei de uma empresa que cria jogos. O mais próximo do meu trabalho de sonho.

Hoje comprei um livro. Chama-se "XNA 2.0: Game Programming Recipes". Não sei o dia de amanhã... mas não vou desistir do meu sonho.

1 comentário:

Ternurinha disse...

pois é...
parece que a programação não é uma escolha, mas sim uma evidência :)

Para mim também foi assim.... por outros caminhos, mas também lá fui ter ;)

Bjns,

Helena.

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