quinta-feira, 27 de novembro de 2008

E o próximo vai para...



"Obrigado, obrigado, obrigado... obrigado, obrigado, obrigado!" - dizia ele baixinho para o microfone, à medida que fazia vénias para um público extático.

A noite não começava das melhores formas. O stress do costume. Nós a querermos sair e os pedidos de alterações por parte dos clientes a chegarem. Muitos haviam já descido para a tradicional cerveja, outros seguido o seu caminho... e nós os 5 havíamos ficado para trás. Havíamos... salvo seja. Confesso que fiquei mais pela companhia do que propriamente pelo trabalho. Já eles...

"Eles este ano esmeraram-se... ora aí está uma bela produção!" - disse ele.

Trabalho terminado, era hora de seguir para a festa. Eles já não tinham cabeça. Compreendi... mas foi pena. Tinha sido bom irem. Era uma forma de verem o nosso trabalho reconhecido.

"Alguém sabe como é que se vai para lá?" - perguntou ele.

Chegámos. Os gin tónicos começaram rodar. Foi bom encontrar caras há muito perdidas, um dedo de conversa e venha lá outro gin tónico. A música de Vangelis e o levantar das cortinas revelava agora um ringue de boxe. O ringue onde todas as agências de marketing se iriam defrontar na incessante busca pelo prémio final. O prémio da noite. O cinturão dourado.

"Nunca mais nos chamam? Mas afinal estávamos nomeados para quantos?" - perguntei eu.

Ela levantava os ombros e acenava com a cabeça indicando desconhecer. As nomeações continuavam. Os sapos desapareciam. E nós... nada.

"E os nomeados são..." - dizia ele alto e em bom som.

Era agora. O momento esperado. O momento pelo qual havíamos aguardado toda a noite. E não foi com surpresa que ele chegou. Que o acolhemos. Tínhamos todos trabalhado para isto.

"Eu não vou... achas? Não contribuí em nada para isto... mas compreendes, certo?!" - dizia ela com a sua habitual formalidade.

Disse-lhe que sim. Para ser sincero... não sei se compreendo. Pensava em mim mesmo um ano antes. Isso não me havia impedido de subir ao palco.

Ele continuava a desferir murros e pontapés no saco que haviam colocado para esse fim no meio do ringue. O que nos ríamos. A noite era nossa. 1 bronze, 1 prata e 7 ouros, entre eles o prémio da agência do ano 2008.

Parabéns Fullsix.

domingo, 23 de novembro de 2008

Shrek


Titan, Tiger, Manucha, Rambo, Safira, Mouse, Xira, Sabú, Caniço, Velo e Nino.

Entre outros, estes são os cães da minha vida. Pastores Alemães, Dobermans, Boxers, cruzados e 1 cachorrinho Rotweiller de que nunca me irei esquecer. E agora o Shrek. É certo que o Shrek não é meu... mas sendo dos meus sobrinhos, é como se fosse. Não deixa de ser da "família". O mais recente membro da família. Adoro cães. Aliás... amo cães. Custa-me actualmente não ter um mas assim que tiver espaço... é garantido.

Durante meses ouvi os meus sobrinhos a pedirem um cão e várias vezes ouvi o meu irmão e a minha cunhada resistirem à ideia. Finalmente, acabaram por ceder. Infelizmente, este pedido acabou por se revelar mais como um capricho do que propriamente um acto de necessidade, carência ou amor.

"Mas sabes... ainda assim acho que tá a ser bom para ele. Sabes que ele tem medo de cães, não sabes?" - perguntou ela.

Por acaso não. Não sabia. Não me recordo tão pouco de ele ter tido alguma experiência com algum cão que lhe pudesse ter incutido qualquer tipo de receio. Eu lembro-me perfeitamente de ter sido mordido duas vezes por cães em miúdo e nunca tive medo deles.

"Quando brincares com ele... dá-lhe uma recompensa!" - disse eu.

Eles brincavam agora com o Shrek no chão da cozinha. Por momentos foi como se não existisse mais nada. Deixei-me ficar sentado a olhar para os 3 a brincar com a garrafa de água. E sorri.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Hodgkin - parte I

Lembro-me, ainda que vagamente, de algumas das caras. Mas mais do que caras, lembro-me das circunstâncias que nos uniram, dos episódios que nos marcaram. Lembro-me dele mais do que de qualquer outro. Será por termos partilhado um quarto? Será por ter sido o meu primeiro amigo de cor? Ou seria por ter apenas uma perna? Pelos gritos de dor e sofrimento não foi... porque naquele sétimo piso, foram raras as noites em que não houvesse alguém a gritar por alguém.

Era noite e recordo-me nitidamente de estar cansado. Talvez já me devesse ter ido deitar. Mas era miúdo. E nessa altura tentava sempre ficar acordado até um pouco mais tarde. Fazia-me sentir adulto. Tinha nesta altura 12 anos. Entrei na sala e dirigi-me ao sofá de dois lugares. O meu irmão via televisão como habitualmente àquelas horas. Eu fazia o mínimo barulho possível para que ele não desse por mim. Talvez assim ele não me mandasse para a cama.

"Vai-te deitar. Amanhã é dia de colégio..." - dizia ele.

Normalmente fingia não ouvir. Ou então pedia para ficar apenas mais 5 minutos. Não nessa noite. Nessa noite eu não desci para ir ver televisão. Não desci por querer companhia. Não desci para ficar acordado até mais tarde. Não. E definitivamente estava longe de me querer tornar mais adulto. Entrei na sala. Sentei-me no sofá... e gradualmente deixei de respirar.

Lembro-me dele a gritar pelo meu nome, de colocar-me aos ombros, de descermos para o carro. Recordo-me de entrar nas urgências do hospital, de me colocarem numa maca, administrarem oxigénio, fechar os olhos... e acordar. Ainda estávamos na mesma noite. Não sei quanto tempo passou mas garantidamente era a mesma noite.

"O seu irmão teve um ataque de asma. Entretanto as análises ao sangue revelaram também estar com uma anemia por falta de ferro. Vamos mantê-lo esta noite por cá para fazermos mais algumas análises." - disse o médico.

Mal abria os olhos. Já há muito tempo que a minha asma não se manifestava. E nunca com esta violência. Havia deixado os vaporizadores e inaladores há já uns anos. Também já não frequentava o médico da asma. As aulas de natação tinham ficado para trás. Teoricamente a asma deveria ser problema do passado. Fiquei essa noite no hospital para observação...

"Houve uma complicação e infelizmente perdemos algumas das análises. Seja como for, existem alguns exames que gostaríamos de repetir, para clarificar uma possível situação." - disse o médico no dia seguinte.

Impressionante a forma como a nossa memória funciona. Consigo lembrar-me deste tipo de pormenores passados cerca de 17 anos. E quem me conhece sabe que eu mal me lembro do que jantei na noite anterior. Passados dois dias no hospital, chegou um diagnóstico para o qual o meu irmão não estava preparado. Não de novo. Não tão cedo.

"Como é que isso se pronuncia?" - perguntei.

Fui transferido para o IPO. Para o sétimo piso... departamento de pediatria. E foi aí que o conheci. Estava sempre a rir-se. E apesar de ter apenas uma perna, era dos que mais "corria" naquele corredor. Ficámos no mesmo quarto juntamente com mais 4 miúdos. Lembro-me mais das cicatrizes de cada um do que propriamente das feições. Nomes, esses, perderam-se com o tempo. Destes últimos não guardo recordações claras. Mas acho que é normal. Aquelas camas ao nosso lado tiveram uma rotatividade invejável. Talvez por não serem casos tão graves.
Esta era a minha nova casa. E nesta altura, eu ainda mal sabia o que esperar...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Jogar com tranquilidade



Sinto-me estranho. De há algum tempo para cá que me sinto diferente. O motivo, esse, não é nenhum mistério. É suspeita. E não se trata de um acto isolado mas sim de uma conjuntura. E apesar disso não encontro simplicidade no porquê. Apenas deixo de ser eu. Por momentos passo a ser esta outra pessoa de quem não gosto. Frio e estranho

"É impressão minha ou parece que acabaste de congelar?" - perguntou ele.

Talvez. Ela seguia agora na direcção oposta... alheia ao comentário. Agora que penso nisso apetece-me rir. Logo ele que não se conforma em ver-me de t-shirt na rua à noite. A verdade é que ele já me conhece o suficiente ao ponto de saber que congelei. Fico calado. Evito olhar para os olhos de seja quem for. E ali à frente de todos, o meu "eu" outrora extrovertido, esconde-se, subjugado pela inerente irracionalidade do que sinto. Sinto-me frio e estranho.

"Mas o que é que te passou pela cabeça para fazeres isso?" - perguntou ela.

Não sei. É que não sei mesmo. E ao mesmo tempo interrogo-me sobre o que acabei de fazer. Ela ria-se. Não vejo maldade nem animosidade no meu acto. Foi somente um desabafo. Repercussões? Não sei... é capaz de haver. Olho para o telemóvel na vã esperança de encontrar uma resposta. Uma palavra que seja. Continuo frio e estranho.

"Vais ter de assumir isso!" - disse ela.

Logo se vê. Não sou de fugir às minhas responsabilidades. Já adiá-las... essa é outra questão. Se assumo o que fiz e o que disse.... eventualmente. Mas neste momento julgo não estar com capacidade para confrontar o que quer que seja. O frio dissipa-se... a estranheza perdura.

"Tem calma. Amanhã falamos melhor e logo me contas." - disse ela.

Não! Tou cansado. A sério que estou. Já não me identifico com a causa. São as pequenas coisas que se vão acumulando que mais moem. Não vou compactuar com atitudes deste género. Não quero. Que falta de senso e consenso. E até que estava a começar bem. Por esta altura já nem me lembrava porque havia estado com frio ou sentido estranho.

"Gostei da tua atitude. Vá lá... alguém finalmente falou." - disse eu.

Ele olhou para mim e esboçou um sorriso. Ele sabia do que eu estava a falar. Quando entrei no balneário houve quem me abraçasse. Fiquei contente. E momentos depois sentia-me de novo parte de algo. Mas também foi sol de pouca dura. Já não sinto frio.

"Sinto-me estranho." - escrevi eu.

E a resposta que eu esperava... essa nunca chegou.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ela disse padeleiros?


Adoro ténis. Tudo começou com as aulas que tive no colégio em miúdo. Joguei durante 2 ou 3 anos e embora não estivesse entre os melhores jogadores do Planalto, fui um dos que participou num torneio regional. Foi algo que nunca deixei de fazer.

Os anos foram passando e fui sempre encontrando alguém com quem jogar. Quando não jogava no colégio, jogávamos os três em monsanto. Eu, o meu irmão e ele. Volta e meia também ele trazia o irmão mas nunca jogávamos a pares. Nunca gostei de jogar a pares. Verdade seja dita que nessa altura eu também não era propriamente um "team player". Isso foi algo que apareceu mais tarde.

Mais tarde também, comecei a jogar com ela. Adorava jogar com ela. Éramos equilibrados o suficiente para ser motivador e ela jogava um pouco melhor que eu. Apenas o suficiente para me sentir desafiado.

"Vou ter um bebé!" - disse ela.

Impressionante. Acreditem ou não, a primeira coisa que me ocorreu foi com quem é que eu iria começar a jogar ténis... e só depois é que me lembrei de lhe dar os parabéns. Nunca jogámos a pares e ainda bem.

"Bom... vais levar um banho de bola! Tu não tens noção." - dizia ele.

Eu ria-me. Estava contente porque sabia que talvez ali estivesse novamente alguém com quem voltar a jogar. Não fazia a menor ideia das suas capacidades dentro do campo mas, independentemente disso, nunca me ocorreu ser melhor que ele. Estava a picá-lo. E ele é tão fácil de picar. Continuámos a jantar. Ela ria-se. Também ela ia jogar nesse dia. Mas não connosco. Fazíamos apostas sobre quem seria melhor. Dois galos dentro do mesmo poleiro. Continuámos a jantar e seguimos para o bairro.

"Ouve. É que é já amanhã. Aceitas?!" - perguntou ele em tom de desafio.

Estávamos no bairro alto. Perdia-se a conta a quantos "dinamites" e imperiais havíamos bebido. A manhã aproximava-se e escusado será dizer que no dia a seguir, nenhum dos dois estava em condições de falar sequer, quanto mais jogar um jogo de ténis. Adiámos o jogo. Foi um acordo mútuo de cavalheiros.

Ping pong. Adoro. Desde sempre que me lembro de termos mesa de ping pong em casa. Não em Lisboa. Na praia grande. Também ele tinha mesa em casa e era lá que habitualmente nos juntávamos para jogar. Eram sempre alternadamente snooker e ping pong. Nem sei se é possível jogar ping pong a pares. Seja como for... também nunca aconteceu.

"É possível..." - disse ela - "...ping pong a pares!"

Sorri. Achei piada.

Raquetes de praia. Gosto. Sempre que posso jogo.. Infelizmente nem sempre se arranja quem esteja disposto a jogar. Mas quando se proporciona, sabem que podem contar comigo... desde que não seja a pares.

Padel... hein?! Padel quê? E tem mesmo de ser a pares? Nunca tinha ouvido falar de tal coisa até começar a trabalhar na Fullsix. Mas também seria uma questão de tempo tendo em consideração a posição deles neste meio. Eles organizaram estas 2 horas e posso dizer que gostei. E gostei de ter jogado a pares. De ter uma equipa. Aliás, gostei muito mesmo. Eu e todos os que lá estiveram. E quero repetir.

Sinto que ainda prefiro o ténis. Ao mesmo tempo, sinto também que ainda não dei tempo suficiente a esta nova modalidade, para crescer, dominar e para me habituar a ter um par... e paredes!

Ele suava. Pingava. Adorei ter feito equipa com ele em todos os jogos. Em 7 jogos perdemos somente 2. E ele estava furioso com isso. Eu ria-me e dizia-lhe para se acalmar. Lembrava-me daquela noite em que ele havia dito que me ia dar um "banho de bola" e agora aqui estávamos nós... mas do mesmo lado do campo.

"Bom, já vi que contigo... perder nem a feijões!" - disse eu.

Ele lá acabou por soltar um sorriso. Tínhamos tido uma grande noite. Tinha sido uma excelente primeira experiência. Estávamos cansados e desejosos de chegar a casa... mas também com muita vontade de voltar!
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