sábado, 27 de dezembro de 2008

O cubo mágico


Nunca tive um cubo de Rubik. Lembro-me do meu irmão ter um e de me terem dado um magic puzzle de Rubik. Parece-me lógico evitar dar a mesma prenda a 2 irmãos. Mas não se resumiu a isso. Sempre fomos diferentes. Ele teve aulas de viola e eu de piano. Ele frequentou aulas de futebol e judo e já eu andava no basket e na natação. Ele tinha um estojo com ilustrações de Fórmula 1 e eu do Moto GP. Ele quis e seguiu Direito e eu quis seguir Engenheria. Até aqui fui diferente ao não seguir nada. Não admira a falta de pontos em comum. Ele casou e teve dois lindos miúdos e já eu... bom, ainda ando a resolver algumas camadas do meu cubo.

Este Natal ofereceram-me um cubo mágico e com ele, uma alusão à vida.

Muitas vezes pensei sobre a vida. Sobre o meu percurso nesta nossa longa caminhada. E verdade seja dita que é dos momentos atribulados que melhor me recordo. Creio que é por serem os momentos mais marcantes. Ou pelo menos para mim foram. E agora que penso nisso, por si só, esta afirmação já diz muito acerca da minha vida. É através dos obstáculos que ultrapassamos, das divergências que fechamos em concordância e dos desafios que falhamos, que aprendemos e crescemos. Sim, também estes últimos, porque não aprendemos apenas com os nossos sucessos mas também com as nossas falhas. Porque a lição raramente se encontra no resultado mas na forma como lá chegamos. Nas alternativas que colocamos. Nas opções em aberto. Na postura com que enfrentámos cada uma delas. No raciocínio. Na pertinácia com que as acatamos.

Não são muitas as pessoas que me conhecem na íntegra. Mas gosto de me dar a conhecer. E sinto cada vez mais essa necessidade à medida que as pessoas se vão tornando mais importantes para mim.

"O quê? A sério? Não sabia... e tens seguido isso ou tenho de te dar um par de estalos?" - disse ele.

Gosto de conhecer pessoas. E para isso procuro gerar oportunidades que me levem a conhecê-las um pouco melhor. De promover convívio. Sem expectativas. Não é disso que se trata. Não procuro um fim mas sim um meio. E vivo e tento viver uma coisa de cada vez. Quem me conhece sabe isso. Quem não me conhece só vai compreendê-lo depois de me conhecer. Para me conhecer de facto... vai ter mesmo de querer.

E nestes momentos, encaixamos mais uma peça no seu lugar. Não sabemos se ela está no seu lugar certo nem até quando lá permanecerá. Se vamos precisar de mudá-la de sítio. A importância daquela peça é relativa. Apenas se pode medir no seu próprio tempo e espaço e a sua constância passa para segundo plano. O que faz sentido hoje poderá não fazer amanhã. Não existe linearidade na forma como resolvemos o cubo. O cubo é orgânico. Vive. E cada passo que damos representa um novo passo no interminável mar de possibilidades para uma potencial solução e abre-se um infindável leque de novas opções. Num universo tridimensional que conta também com a 4ª dimensão para a chegada da solução.

A própria forma como jogamos com o cubo muda consoante a nossa idade, a nossa experiência e acima de tudo, a forma como apreciamos o jogo em si. Fosse mais novo e estaria tentado em fazer batota. Poderia procurar um guião que me ajudasse. Poderia dar a alguém que o jogasse por mim. Ou poderia até desmontar o cubo e montá-lo de novo a meu proveito. Às vezes cedemos e desistimos. Queremos respostas. Ansiosos por entrar naquela última camada, procuramos caminhos rápidos e fáceis. Fazemos batota. Hoje em dia jogo-o com outro olhar. Mais sereno. Mais calmo. Mais calejado. Gosto de jogá-lo e não tenho pressa em chegar ao fim.

Sim, tem várias cores. Sim tem várias soluções possíveis. Ou melhor. Diversas equações para uma única solução possível. Porque solução existe apenas uma. Aquele momento em que numa última rotação conseguimos colocar as 6 faces homógeneas. É esse o seu desfecho. É esse o desfecho da vida. E como não é nessa única certeza que temos na vida que reside a nossa alegria, então podemos apenas assumir que os prazer de viver se encontra nessas equações. Nesse caminho a percorrer. Nos tais obstáculos que existem não para nos assustar nem para gerar receio mas apenas para nos testar e recordar o porquê de estarmos ali. Para nos lembrar que merecemos estar à altura.

Sou paciente. Sei esperar. Sei lutar pelo que quero. A vida ensinou-me isso e muito mais. Ensinou-me também que a aprendizagem nunca cessa. Que as desilusões e as frustrações nunca terminam mas que não devemos desistir por medo de passar por elas. Nem o medo de falhar. Tornam-nos mais fortes. E enquanto experiências de vida enriquecem-nos e permitem-nos saborear de outra forma todas as outras alegrias. Já há muito tempo que deixei de ter medo. Que aprendi que sou eu quem determina o meu destino.

O medo não é a linha ténue entre os obstáculos e a minha realização pessoal. É a experiência. É a dualidade entre a vontade e perseverança face à história e ao cansaço. É a experiência que acarreta o pragmatismo. Que mata a cor e que deambula em graus de cinzento. E é essa luta constante que se confunde com a falta de vontade genuína. Que assume outras caras. Que confunde.

Comecei a jogar. É uma primeira camada do jogo. Conquistar uma face. O quadrado branco. Depois disso logo se verá.

Na vida só há uma certeza. A solução. Se esse grau de incerteza pode ser caracterizado como esperança? Duvido. Esperança requer fé. E não necessito de fé para com convicção afirmar que a vida é incerta. Que a esperança me ajude a viver com essa incerteza? Isso sim... concordo. 

Infelizmente nem tudo na vida é comparável ao cubo. Tento jogá-lo bem, apreciando cada rotação e não me focando tanto em terminar.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Bi

Já te disse que te amo? Da falta que me fazes?

Não me pude despedir de ti. Eles não deixaram. Sabes isso não sabes? Fiquei uns dias em casa dele e foi tão estranho quando ele me foi buscar para retornar a uma casa sem ti. Sabes o que ele me disse? Sabes como foi quando me contaram?

Vou ser egoísta. Preciso de ser. Eu tinha 11 anos. Sabes o que me fizeste? Sabes como me deixaste? Deixaste-me sozinho... sim, sozinho. Ainda demorou um tempo até perceber isso. Mas eu nunca tive uma família. Só te tive a ti. Elas bem o disseram. Eu ouvi mas não escutei. Ou não quis escutar. Não percebia porque elas diziam que ele me ia enviar para o meu pai. Como assim? Não fazia sentido nenhum. A minha família não era esta?

Sabias que a dada altura já não me interessava viver mais? Sabias que quase desisti? Percebeste o que me ia na alma? No coração? O quanto a vida não fazia sentido sem ti? Odeio ter-me habituado. Odeio não precisar tanto de ti como antigamente. Sinto que em muitas coisas parei naquele tempo.

Hoje tenho outra família. Aquela que deveria ter tido desde sempre. Passaram-se anos mas finalmente encontrei-os. E encontrei a minha querida avó. Estás com ela? Toma conta dela que também a adoro. Tive tão pouco tempo para estar com ela. Ela era como tu. Uma santa. Uma querida. Um amor de pessoa. Tomem conta uma da outra. Eu sei que vocês davam-se bem.

Sabias que ele me bateu? Por querer ir aos anos do meu melhor amigo? Sabias que me atirou à cara ter perdido um negócio quando eu ainda estava de cama a recuperar da quimioterapia? Por me ter ido buscar ao hospital? Ele fez-te o mesmo? Viste como ele nos tratou? Viste o que ele fez? Não percebo. Juro que não percebo. Não percebo como estavas com ele.

Lembras-te que passados uns dias ouvi o teu sino? Eras tu? Estavas lá? Como quis que estivesses apesar do assustador que isso possa soar. Às vezes ainda te procuro na escuridão. Atraso o acender da luz para ver se apareces mas nunca estás lá. Procuro a fé que tinhas e que perdi única e exclusivamente para me sentir mais próximo de ti.

Já raramente rezo. Há uns tempos rezei. Pelo pai dela e pela minha avó. E tal como quando rezei por ti, não resultou. Sinto-me de novo um filho abandonado. Sabes que o odeio não sabes? Que por muito que o tente ignorar ou fingir que não existe... continuo a precisar dele para nele depositar o meu ódio. Neles a bem dizer.

Agora apercebo-me que te estou a tratar por "tu". É estranho. Nunca aconteceu em vida e provavelmente nunca viria a acontecer. Mas neste momento não me faz sentido ser de outra forma. Importas-te? Sinto-me mais perto de ti assim...

No outro dia chorei. Não sei porquê. Não conseguia sequer falar. Estava a tomar banho e comecei a chorar. A pensar em ti. A pensar em nós. Ela estava lá para me confortar e acho que ninguém o teria feito melhor que ela. Ela compreende-me. Ela sabe. Eu contei-lhe. Deixei-me cair na banheira enquanto enchia e perdi noção do tempo. Queria que voltasses.

Às vezes penso em ti. Penso na falta que me fazes. Estás triste comigo? Estás desiludida? Tenho medo da resposta. Tento viver com o que me ensinaste, com os princípios morais e cívicos com que me educaste e receio nem sempre viver de acordo com as expectativas. Penso na pessoa em que me teria tornado se não me tivesses deixado.

Tantas vezes senti a tua presença. Tantas vezes senti que continuavas a tomar conta de mim. Que continuas a olhar por mim. Mas isso não me chega. Quero poder abraçar-te. Dar-te um beijinho de manhã antes de sair de casa.

Lembras-te quando me ias buscar à natação? Levantavas-me e punhas-me em cima do banco e enrolavas-me na toalha. E quando estava seco davas-me sempre aquele tupperware azul com mini palmiers ou sortidos húngaros. Ou quando me preparavas o pequeno-almoço. Pensal. E quando me deitaste pimenta na lingua por ter dito um palavrão? Lembro-me que nunca mais repeti... enquanto foste viva.

Já viste os teus netos? Estão lindos não estão? Sabias que te vejo neles? E no pai... sim no teu filho. No outro dia fui a casa dele e vi uma foto de vocês os dois. Como foi bom ver a tua cara de novo. Estavas linda tal como sempre te recordei. Lembras-te de quando íamos para a missa e caíste? E eu não te consegui levantar e chorei? Lembro-me também da nossa viagem a Londres, do Madame Tussauds, do hospital e das tuas amigas.

Preciso de te pedir desculpa. Preciso de te dizer que estou arrependido de não te ter ido ver mais vezes ao quarto. De não te ter dito vezes suficientes que te amava e que nunca te poderia retribuir tudo o que fizeste por mim. Por me ter deixado ir abaixo e não ter seguido o caminho que querias que tivesse seguido. Vês? Já estou a chorar outra vez. Fazes-me tanta falta.

Tenho saudades tuas. Amo-te.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Tudo o que é bom acaba



"Que dizes a um almocinho... estilo consoada na praia?" - perguntou ele.

A ideia pareceu-me desde logo óptima. Já tinha saudades de estar com eles. Lembrei-me da Arrifana,  do surf, do mar, de copos e churrascadas. Contem comigo!

"Então tio desaparecido. Esqueceste-te de nós?" - escreveu ele.

Não me esqueci de vocês meus queridos. Infelizmente estava a trabalhar e não me parecia que fosse conseguir sair a tempo de vos ir visitar. A noite parecia não ter fim. E com ela o projecto em mãos. Pensava agora no almoço do dia seguinte e a que horas teria de acordar. Bebia outro café e continuava. E com isto as horas passaram e o sol nasceu.

"Tou... sou eu. Então? Esqueceste-te do almoço?" - perguntou ela.

Quem? O quê? Ainda demorei uns bons minutos a perceber com quem tinha estado a falar. Parecia que tinha sido atropelado por um camião. Olhei para o relógio e compreendi o porquê. Eram 13:00 e tinham-se passado cerca de 4 horas desde que me tinha deitado. A custo levantei-me, movido pela saudade, e fiz-me à estrada rumo à praia.

Lá se encontrava a mítica "pão de forma". À volta dela, o grupo do costume e um par de caras desconhecidas. As pranchas enceradas e estendidas à volta da carrinha serviam de porta estandarte. As espetadas e as salsichas acabadas de sair da grelha circulavam e não se passaram dois minutos sem ter um copo de vinho na mão. Tudo o que era preciso estava ali. Um grupo de amigos, um grande ambiente de convívio e borbas para dar e vender.

"Já viste o que me deram no amigo secreto da empresa?" - dizia ele sorrindo e apontando para a cabeça.

Confesso que não sou grande apreciador de bonés mas aquele era um status! Se encontrar igual mas em preto... compro um. Uma GS é sempre uma GS.

Falámos de surf e do mar. De uma suástica que afinal não existia. De uma cruz maltesa que se assemelhava à do barão vermelho. Das viagens de mota a Marrocos, à Escócia e ao sul de França. Dos lobos da neve e daí para a neve em si. De quem vai e de quem foi. Da economia de direito. Das histórias da vida de cada um. E comíamos e bebíamos com gosto...

"Onde é que anda o fotógrafo?" - gritou ele.

As horas passaram e chegava a hora de dispersar. A "família" juntava-se agora para a foto de grupo. Coloquei a máquina em cima de um dos carros e corri. Despedimo-nos e infelizmente...

...tudo o que é bom acaba!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Veni, vidi, vici...


O dia de hoje foi bem mais curto do que é habitual. Talvez justificado pela noite prolongada de ontem. Mas acerca dessa prefiro nem falar. E até nem é por não querer. É mais por nem saber por onde começar. Pelos "dinamites"? Digo apenas que mais uma vez as festas da empresa estiveram ao mais alto nível.

"Tens 2 meses para te preparar..." - disse ela a rir-se.

Cheirou-me a desafio. Percebi que se referia ao braço e à incapacidade de conseguir jogar nos próximos tempos. Em tom de brincadeira disse-lhe que já estava preparado há anos. Quanto muito poderia era passar 2 meses a aquecer. É claro que se ela for em ping-pong metade do que é em padel... estou bem tramado. Bom. Pensando melhor, é melhor ir treinando.

"Encontramo-nos no liceu francês." - disse eu.

Parece que ele lá conseguiu convencer o cunhado a aparecer com uma carrinha grande o suficiente para levarmos a mesa. Dito feito. Fomos os 3 à Decathlon, comprámos a mesa e ele ainda comprou uma raquete "especial de corrida". Verdade seja dita que até à data a raquete não tem abonado a favor.

Quando chegámos à Fullsix, começámos a montar a mesa e mandámos vir pizzas. A noite prometia ser longa. E quando acabámos de montar a mesa, a excitação era tal que nem a tirámos do lugar. Onde estava foi onde ficou. Pelo menos nos 3 ou 4 primeiros jogos. Num laivo de racionalidade e inteligência, acabámos por admitir que na entrada é que se jogava bem e assim foi. A nostalgia e o vício do jogo impelia-nos a continuar a jogar cada vez mais. Estávamos cansados mas não conseguíamos parar de jogar.

"Vá... este é mesmo o último!" - dizia ele pela sétima vez.

Há quem lhe chame a "mesa do César". Não deixo de achar piada e rir-me, mas acabo sempre a refutar a ideia. A mesa não é minha. É de todos. Mesmo daqueles que não contribuiram para ela. Combinam-se agora torneios, desafiam-se uns aos outros e há até quem tenha começado a almoçar sandes para chegar à mesa primeiro.

"Bom. Ainda bem que me convenceste a comprar uma rifa!" - disse ela enquanto segurava no filho.

Se é um sucesso? Acho que sim. Acho que olhando para trás todos estão contentes por se terem deixado levar na conversa da rifa a 1 euro. Ela pelo menos tem de estar visto que aquelas 2 rifas lhe valeram o primeiro prémio. Rio-me. Penso se ela não preferia ter abdicado do prémio e evitado toda a exposição a que esteve sujeita.

"Sr. César... se me der 20 de avanço vou lá acima jogar consigo." - disse ele.

Os próximos passos? O próximo objectivo? Acho que ainda temos um bom caminho a percorrer. Eles falam das mais variadas coisas, desde o saco de boxe à mesa de bilhar, passando pelas humildes setas ou até pelo mini-golfe. Até que ponto são ou não viáveis... isso logo se vê. Uma coisa é garantida: vou continuar a dar voz ao que todos querem e a tentar torná-lo possível. 

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os amigos do garfo


Eram 10 da manhã. A chuva e o vento teimaram em aparecer, mas nem mesmo estes nos demoveram de um último passeio. Tínhamos tudo o que precisávamos: a companhia de quem já partilhou muitos e bons quilómetros e um roteiro gastronómico.

"Vai desejar salmonete? Robalo? Dourada?" - perguntou ele.

Já não o via há algum tempo. Não desde que foi morar para a Polónia. Da última vez que estivemos juntos fomos os três almoçar a Rio Maior. Depois veio o acidente... e nunca mais o vi. Foi bom vê-lo e dar-lhe um abraço. Foi bom ver que estava bem e pronto para mais curvas.

"Se quiserem... ficam em minha casa em Londres e depois seguem!" - disse ele.

Falávamos da viagem à Escócia. Não era uma viagem nova. Já tínhamos considerado esta viagem no ínicio do ano, assim como a viagem a Marrocos. Infelizmente, nenhuma das duas se concretizou. O nosso presidente ausentou-se durante uns meses e verdade seja dita que isso fez toda a diferença. Faltou-nos um elo agregador. Uma peça basilar do nosso motoclube. Os encontros semanais na sede passaram a ser mensais e os ânimos motociclísticos deixaram-se esfriar com o tempo. 

"Vai desejar salmonete? Bica? Carapau?" - perguntou ele.

Salmonete. Confesso que apesar da viagem em si me entusiasmar, o facto de a quererem fazer em apenas uma semana me deixou meio apreensivo. Ao contrário deles, não acredito que se faça facilmente. Ou melhor... não é que não se faça, mas será garantidamente uma viagem a "devorar" quilómetros. Uma média de mil quilómetros diários? Durante sete dias? Quero visitar lugares e conhecer pessoas, comer e beber bem, assimilar culturas, tirar fotografias, quero repousar... quero memórias e experiências. Não procuro uma viagem frenética cujo expoente máximo seja a vanglória dos tempos e quilómetros percorridos. Não. Para isso não contem comigo. Não estou para aí inclinado.

"Vai desejar salmonete? Espada branco? Ovas? Salmão?" - perguntou ele.

Salmonete. Pensei no sul de França. Lembrei-me de um filme que havia visto há uns meses atrás, que apesar de se passar na California, traduzia quase na íntegra aquilo que procurava. Fiquei de pesquisar sobre isso. Sim. Soa-me bem. Salmonete. Uma viagem de uma semana pelo sul de França, turismo rural, visitar os "chateaux" e os campos vinícolas, cultivar-me em provas de vinho e na famosa gastronomia da região. Tirar muitas fotografias e fazer muitos quilómetros. Aproveitar as curvas dos pirinéus. Salmonete. O melhor de dois mundos.

"Vai desejar salmonete? Choco? Polvo?" - perguntou ele.

Salmonete. Por esta altura interroguei-me no porquê de salmonete ser uma constante. As migas de coentros e beterraba estavam uma delícia. A batata cozida e a salada traziam harmonia à mesa. E os jarros de vinho? Um era demais e 1000 não chegavam! Sei que te estás a rir...

"Vai desejar..." - e tive de o interromper com um redondo não!

Penso agora na velha máxima "Live to ride, ride to live" e traço um novo paralelismo com o que julgo todos sentirmos. Conduzimos como vivemos. Não se equipara a importância do destino ao caminho percorrido para lá chegarmos. São as estradas que nos movem e conduzem. É nos trilhos sinuosos que encontramos prazer. Uma adrenalina que nos faz sentir vivos. É quando paramos que medimos na extasiada expressão de cada um a qualidade de um novo troço. E frequentemente voltamos a visitar terras e lugares por causa das suas "curvas".

"E vais com este tempo?" - perguntou ela.

E porque não?
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