terça-feira, 18 de novembro de 2008

Jogar com tranquilidade



Sinto-me estranho. De há algum tempo para cá que me sinto diferente. O motivo, esse, não é nenhum mistério. É suspeita. E não se trata de um acto isolado mas sim de uma conjuntura. E apesar disso não encontro simplicidade no porquê. Apenas deixo de ser eu. Por momentos passo a ser esta outra pessoa de quem não gosto. Frio e estranho

"É impressão minha ou parece que acabaste de congelar?" - perguntou ele.

Talvez. Ela seguia agora na direcção oposta... alheia ao comentário. Agora que penso nisso apetece-me rir. Logo ele que não se conforma em ver-me de t-shirt na rua à noite. A verdade é que ele já me conhece o suficiente ao ponto de saber que congelei. Fico calado. Evito olhar para os olhos de seja quem for. E ali à frente de todos, o meu "eu" outrora extrovertido, esconde-se, subjugado pela inerente irracionalidade do que sinto. Sinto-me frio e estranho.

"Mas o que é que te passou pela cabeça para fazeres isso?" - perguntou ela.

Não sei. É que não sei mesmo. E ao mesmo tempo interrogo-me sobre o que acabei de fazer. Ela ria-se. Não vejo maldade nem animosidade no meu acto. Foi somente um desabafo. Repercussões? Não sei... é capaz de haver. Olho para o telemóvel na vã esperança de encontrar uma resposta. Uma palavra que seja. Continuo frio e estranho.

"Vais ter de assumir isso!" - disse ela.

Logo se vê. Não sou de fugir às minhas responsabilidades. Já adiá-las... essa é outra questão. Se assumo o que fiz e o que disse.... eventualmente. Mas neste momento julgo não estar com capacidade para confrontar o que quer que seja. O frio dissipa-se... a estranheza perdura.

"Tem calma. Amanhã falamos melhor e logo me contas." - disse ela.

Não! Tou cansado. A sério que estou. Já não me identifico com a causa. São as pequenas coisas que se vão acumulando que mais moem. Não vou compactuar com atitudes deste género. Não quero. Que falta de senso e consenso. E até que estava a começar bem. Por esta altura já nem me lembrava porque havia estado com frio ou sentido estranho.

"Gostei da tua atitude. Vá lá... alguém finalmente falou." - disse eu.

Ele olhou para mim e esboçou um sorriso. Ele sabia do que eu estava a falar. Quando entrei no balneário houve quem me abraçasse. Fiquei contente. E momentos depois sentia-me de novo parte de algo. Mas também foi sol de pouca dura. Já não sinto frio.

"Sinto-me estranho." - escrevi eu.

E a resposta que eu esperava... essa nunca chegou.

1 comentário:

Unknown disse...

É bom ter amigos destes, que quando olham para nós, sabem logo que á algo de errado na fotografia…

Basta um olhar, um expressão… que eles percebem logo que, algo aconteceu, algo se passa… e só á pouco tempo atrás percebi isto :)

É incrível como nós, sem querer, mostramos aos outros aquilo que estamos a sentir no momento, mas só alguns compreendem… só os verdadeiros compreendem…

Sim, estavas estranho… não estavas a lidar bem com a situação, andava a consumir-te de uma maneira, estranha… sei que te conheço pouco, mas o pouco que conheço de certo modo intrigava-me, porque nunca te tinha visto assim… porque para mim tu eras aquela pessoa que era preto no branco… sim ou não… mas vi que não, tu também usas o talvez, nada comparado ao meu, que é constante :)

Naquele dia, sabia que irias escrever… estavas demasiado desorientado… precisavas de escrever, precisavas de ouvir as palavras, para que as coisas fizessem sentido… e por isso escreves, releste, e voltas-te a escrever….
Beijos da tua grande admiradora :)

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