domingo, 31 de agosto de 2008

Pipocas inteligentes

"Gosto de filmes que me façam pensar."

Pode até parecer estranho dado o contexto. Afinal de contas, estávamos no intervalo daquele que acabou por ser a nossa 3ª escolha, por questões que se prenderam com "timmings" e problemas de ordem técnica. Diga-se também de passagem que qualquer um destes 3 filmes requeria a carga intelectual de uma criança de 6 anos. Mas eu percebi o que ela quis dizer...

"Gosto de filmes com substância, que me façam reter algo no fim... gosto de filmes com uma moral por trás." - disse ela.

Não valia a pena. Nunca lhe iria conseguir vender outro filme do Vin Diesel. Eu sabia o que ela estava a querer dizer e não podia deixar de em parte concordar. Mas também sabia que tínhamos graus de exigência diferentes. Havíamos gerado diferentes expectativas sobre o que um filme deveria ser e isso condicionava as nossas escolhas.

"Ele não gosta de filmes... ele devora filmes. É um consumidor de filmes." - disse ele em tom de gozo.

Sorri. Ele não deixava de ter razão. A verdade é que adoro filmes e sou capaz de passar horas a vê-los, independentemente do género, enredo, elenco ou até mesmo do número de vezes que já os vi. Vejo filmes como forma de entretenimento e é isso que eles são para mim... uma fonte de passar o tempo, distracção e divertimento. E como tal não sou esquisito. Para ser sincero, chego a ter alturas em que fujo a sete pés de filmes inteligentes.

Há muitos anos atrás, perguntei ao meu irmão que tipo de jogos de computador é que ele preferia, apesar de saber perfeitamente que ele não era sequer grande apreciador de nada que tivesse a ver com um computador. Para quem não conhecer o meu irmão, fica a nota de que é 8 anos mais velho do que eu, licenciado em Direito, e que acredita piamente que os computadores apenas vieram piorar a qualidade de vida do Homem. Mas adiante. Depois de ele me dizer o nome de um jogo de futebol e outro de fórmula 1, repliquei com jogos de estratégia e "role playing games", através dos quais seria possível gerir intrincados mundos virtuais, com uma infinita panóplia de caminhos a percorrer, personagens fantásticas por conhecer, regras a respeitar... e ele respondeu-me algo de que nunca mais me esqueci:

"Cesarinho... para te ser sincero, os meus estudos e trabalho já me requerem que passe a totalidade dos meus dias a pensar e a esforçar-me intelectualmente. Quando estou em casa, num momento de lazer, opto por não fazê-lo. Também se pode retirar algum proveito da estupidificação."

Na altura não percebi bem... pensei que lá estava o paleio de advogado a esquivar-se à questão. Acho que depois destes anos todos já percebo o que o meu irmão quis dizer.

Tenho pouco mais de 300 filmes... originais claro! Ninguém que pirateie filmes afirmaria ter tão poucos. Seria de imediato alvo de chacota. Todas as pessoas que conheço que "sacam" filmes da "net" falam sempre na casa dos milhares ou em "gigas":

"Epá... tou a sacar agora a terceira temporada daquela série de que nem me lembro do nome nem do que se trata e que provavelmente acabarei por nunca ver, visto que mesmo que parasse agora, nunca teria tempo numa vida útil para ver tudo o que já saquei... e são apenas 5 gigas!!!"

Faz-me rir... mas não tenho nada contra. Aliás, longe de mim estar aqui com falsos moralismos depois de tudo o que já "saquei". Nada disso. Apenas acho piada aos coleccionadores de "gigas".

"Mas tu compras filmes? Para quê? Aposto que 80% dos filmes que tens só os vês uma vez... qual é o interesse de ver um filme de novo quando já se conhece o final?"

É complicado discutir com alguém cujo discurso faz todo o sentido. Responder-lhe com algum encadeamento coerente e racional é penoso. A resposta... bom essa seria tudo menos racional. Compro filmes porque faço colecção. Porque faz tanto sentido como ter centenas de isqueiros, selos, cromos ou vinhetas de teatro. E porque prefiro ver filmes em casa do que no cinema. Sem comparação possível. Se há coisa que me irrita durante um filme é o irritante som das caixas de pipocas, dos comentários labregos e das risadas em momentos chave de filmes dramáticos. E hoje não foi excepção. Mas valeu a companhia... e todo o dia que os 3 deixámos para trás.

sábado, 30 de agosto de 2008

A Paço e Paço

Há algum tempo atrás, ele falou-me de um livro e de um autor que me chamou a atenção, apesar da piscina teimar em distrair-me. A água estava gelada, tinha cancro pancreático, o sol estava alto, tratava-se da sua última aula, o vento estava incomodativo, rodava à volta dos seus sonhos de criança e eu tinha-me esquecido de trazer a toalha. É claro que por esta altura a minha cabeça fixou-se em usar a toalha do outro antes que ele voltasse!

"A sorte... é quando a oportunidade... se encontra com a preparação." - disse ele de forma pausada e em tom de citação.

E foi quando me deitei na toalha do outro que consegui falar com ela, que em bom costume, me deliciou com inúmeras dicas gastronómicas. Ainda não consegui pôr nenhuma em prática... mas mal posso esperar. Acho é que vou ter de lhe ligar outra vez! Uma coisa é certa. Para quem ainda tinha a cabeça a "descansar" dos intensos fins-de-semanas de festivais, foi demasiada informação em tão curto espaço de tempo.

Fui para casa e repetia para mim mesmo: "Carnegie Mellon... Murphy Richards... Randy Pausch... Hoovis ou Fermin..." - não necessariamente nesta ordem, mas de forma ininterrupta até ter conseguido tomar nota.

A verdade é que, apesar de provavelmente ter parecido distraído, tanto o livro como a compota de abóbora haviam realmente captado a minha atenção. De tal forma que três dias depois tinha comprado o livro na FNAC e 2 boiões de vidro no IKEA para a compota que tenciono fazer com os meus sobrinhos. Um deles vai ser para ela. Um dos boiões... não sobrinhos!

Quanto ao livro... li, ri, chorei, reflecti e identifiquei-me com o autor... e recomendo vivamente. Para quem está à espera que eu coloque aqui o nome do autor assim como do livro, gostaria de vos deixar com um trecho interessante e que a meu ver se aplica:

"Os obstáculos não estão lá para nos impedir de conseguir atingir o que queremos. Estão lá apenas para somente deixar passar aqueles que realmente querem e fazem por isso. Ou seja... estão lá para impedir os outros!"

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O filho do meu pai


Já dizia o povo que "filho de peixe sabe nadar". E o que parece lógico, óbvio e acima de tudo simples na sua composição, não deixa contudo de me intrigar. Talvez por outra das minhas características que tanto me afecta: a imutável incapacidade de aceitar que algumas coisas são realmente simples e lineares e que não encerram misteriosos enredos à espera de serem descortinados. Que por vezes não existem complexas conspirações, significados escondidos ou sentimentos camuflados. Que um "sim" é sempre um "sim" e um "não" não é um "talvez".

"Filho de peixe sabe nadar"...

Interrogo-me sobre o porquê da expressão. O que a originou e baseado em quê. Sim, claro que conheço o sentido da expressão. Mas a lógica diz-me que um rebento de peixe será inequivocamente outro peixe e que, por conhecimento de causa ou por casual experiência, nadar lhe é inato. E não me refiro àquele peixe em concreto por ser descendente do outro, mas pelo fulcral pormenor de que ele próprio é um peixe! E é aqui que começam as ramificações do problema. Nadar é algo que pertence a esta espécie em particular e que é comum a todas as suas sub-espécies e aos elementos que a compõem. Não é nada que se passe através da educação, por qualquer processo de aprendizagem ou que se possa herdar por qualquer outro veículo que não os genes do mesmo, que esses sim ditam a sua competência. E consequente sobrevivência.

Nadar é portanto uma apetência inerente ao colectivo e não ao indivíduo que a herda. De onde se retira que a expressão apenas pode ser aplicada de forma generalizada e não direccionada.

"Filho de peixe sabe nadar"...

O meu pai é cozinheiro e eu cozinheiro fui... e adoro cozinhar. Se cozinho bem ou se os meus pseudo-cozinhados sequer se aproximam da "haute cuisine" do meu pai, essa já é outra história. O meu pai é louco por motas e aqui escuso de traçar paralelismo. Todavia é curioso ter começado a andar de mota antes dele. Também o facto de ele ter sido instrutor de mergulho e eu mergulhar é apenas mais um elo de ligação. Um elo aberto, visto que até hoje, nunca mergulhámos juntos!

"Filho de peixe sabe nadar"...

Certo. Bate certo. Faz sentido. Onde está então o drama? Onde está a questão, o dilema, a tal conspiração que se esconde à espreita por trás de cada uma destas afirmações? Apenas estou a provar que o provérbio tem motivo de ser. Mas também nunca disse o contrário. Apenas que me intriga.

Pois... o problema reside em nunca ter vivido com o meu pai. Em nunca ter tido uma relação pai-filho convencional. Em nunca ter convivido ao longo da minha infância e adolescência com o meu pai e por conseguinte, nunca ter absorvido os seus gostos, apetências, inclinações... ou sonhos. Por não ter tido a sua força nem as suas direcções. Pela distância que nos separa. Por nos termos acabado por tornar pessoas tão iguais. E tudo isto porque partilhamos os mesmos genes? Como seria se tudo tivesse sido diferente? Seríamos ainda iguais? Iria acarinhá-lo? Iria sentir-me mais próximo? Desconheço. Mas uma coisa sei... o filho do meu pai sabe nadar!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Os homens também choram


Quinta-feira. Como dita a instituição, existindo "quorum", juntam-se 2 ou mais "compinchas motards" para bebericar e divagar sobre as suas aventuras e desventuras motociclísticas. Hoje éramos 3... logo havia "quorum"!

Até aqui nada de invulgar. À hora habitual, lá estávamos no local do costume para dar início a uma noite que acabaria por se revelar diferente. E diferente foi o tema de conversa, que fugindo às habituais temáticas sobre o opulento busto de fulana ou às curvilíneas nádegas de sicrana, nos rematou para a religião, família... e amizade. E talvez o motivo pelo qual nos foi tão fácil dissertar sobre esta matéria foi porque os 3 sabíamos que estávamos perante amigos.

Amigos...

Palavra que no quotidiano empregamos com tal frequência que com o tempo acabou por cair na banalidade. Mas não era este o caso. Éramos e somos 3 amigos com "A" grande.

"O que é para ti um amigo?" - perguntou ele.

Esta questão caiu-me como uma bomba. Eu sei o que é um amigo. Mas falar sobre isso... como posso eu dizer o que é um amigo? Como posso eu por meras palavras descrever um sentimento tão nobre e substancioso como a amizade? Definir amizade é como definir amor... hercúlea tarefa! Mas poderá ser então a amizade uma derivação do amor?

"É uma pessoa que eu sei que estará lá por mim se precisar e por quem eu quero estar." - respondi. Pensando agora melhor no assunto acho que deveria ter acrescentado:

"É também uma pessoa por cuja companhia procuro e que quero que me procure, porque é nessa necessidade de reciprocidade, que se define o grau da relação."

A verdade é que poderia ter respondido exactamente da mesma forma se me tivessem perguntado sobre o amor. Sim, estaria incompleto... mas não incorrecto. Teria de falar de paixão também... mas essa agora seria outra história.
"E a família... consideras como amigos?" - perguntou o outro.

A verdade é que a família não se escolhe.

"Não... mas o meu irmão sim porque não é meu irmão." - disse, explicando de seguida o porquê da afirmação e clarificando a confusão.

"E quantos amigos tens?"- perguntou ele.

Ora aqui estava uma pergunta tão pertinente como traiçoeira. Se dissesse que tinha muitos estaria a desvalorizar os que considero amigos... se dissesse que tinha poucos, a verdade é que estaria a mentir. E assim que pensei nisso senti-me afortunado. Porque acreditava de facto ter mais do que a esmagadora maioria das pessoas afirma ter.

"15 talvez... cerca de 15... não sei... talvez menos... aqui pelo menos tenho a certeza que estão 2!" - retorqui. Não foi um número pensado mas foi sincero. Ambos responderam acreditar terem menos de 10...

A verdade é que eu estava perante 2 amigos de "A" grande. Eu sabia isso e eles também. Tentei em vão ocultar o quão emocionado fiquei e como tal não pude deixar de soltar uma lágrima ou duas. Mas os meus não foram os únicos olhos lacrimejantes...


PS: no final de escrever este "post" abri o notepad e escrevi o nome de todos os que considero meus amigos. São 11... afinal não estava assim tão longe!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Você me chamou de roliça?!


As expectativas eram altas. Havia semanas que tanto um como o outro me tentavam convencer de que este era um dos melhores de Lisboa e verdade seja dita que dada a temática, não foi preciso muito. Quem me conhece sabe que pode sempre contar comigo para uma boa garfada. E o que começou como um simples jantar de quarta-feira acabou por se tornar num ritual.

Chegara o dia do bife verde!

Foram muitas as histórias, gargalhadas e confidências que se acumularam ao longo das semanas seguintes. Demasiadas para nos lembrarmos de todas... suficientes para nos fazer voltar e recordar. Recordar e reviver o "meio" bife. Recordar o gin tónico que atenua a sua espera, o tagliatelle que o precede, o silêncio que o acolhe e as Quintas de Cabriz que o acompanham... somente equiparáveis com o convívio que se vive. Ingredientes intrínsecos à experiência gastronómica que apenas pode ser compreendida pelos que lá estão.

E à medida que escrevo lembro-me dos momentos que deram lugar às memórias. E aquele "meio" bife ganha voz...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Génese


Confesso que não tenho por hábito ler blogs. Sempre os considerei uma perda de tempo e como tal muito menos me ocorreu que um dia poderia vir a escrever um. Talvez porque até hoje nunca os tenha realmente compreendido nem percebido o seu valor, nem para o mesmo efeito a força que impele milhares de pessoas a escrever sobre os mais variados temas. Sim... prefiro pensar por isto e não por falta de temas!

E foi por mero acaso que acabei a ler um blog de uma nova amiga. Talvez por nostalgia ou por uma "gota" de saudade. E nessa gota adicional consegui rir, pensar, rever-me... e encontrar um pedaço dela que nunca havia conhecido. Adorei... e fez-me compreender!

Li o blog porque sei que se vai embora. E olhando para o passado e para todas as outras pessoas que a dada altura "se foram embora", tenho receio de não a ver mais. Aliás... não é propriamente receio. É tristeza sobre a eventual incerteza de também ela se vir a tornar em "mais uma gota"... de saudade! Olho para trás, para quase um ano de intermitente convivência, e arrependo-me de não me ter prestado a conhecê-la melhor.

Sem que procurasse, encontrei um motivo para querer escrever um blog, em que tal como ela... me consigo exprimir, desabafar, dar a conhecer, recordar, guardar e manter-me em contacto com todos aqueles que se "foram embora" ou de quem "fui embora".

Escrever um blog pode ser muita coisa e nada. E eu não quero que seja nada. Quero apenas que seja um pouco de "eu" e que aqui me possam encontrar...
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