sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O filho do meu pai


Já dizia o povo que "filho de peixe sabe nadar". E o que parece lógico, óbvio e acima de tudo simples na sua composição, não deixa contudo de me intrigar. Talvez por outra das minhas características que tanto me afecta: a imutável incapacidade de aceitar que algumas coisas são realmente simples e lineares e que não encerram misteriosos enredos à espera de serem descortinados. Que por vezes não existem complexas conspirações, significados escondidos ou sentimentos camuflados. Que um "sim" é sempre um "sim" e um "não" não é um "talvez".

"Filho de peixe sabe nadar"...

Interrogo-me sobre o porquê da expressão. O que a originou e baseado em quê. Sim, claro que conheço o sentido da expressão. Mas a lógica diz-me que um rebento de peixe será inequivocamente outro peixe e que, por conhecimento de causa ou por casual experiência, nadar lhe é inato. E não me refiro àquele peixe em concreto por ser descendente do outro, mas pelo fulcral pormenor de que ele próprio é um peixe! E é aqui que começam as ramificações do problema. Nadar é algo que pertence a esta espécie em particular e que é comum a todas as suas sub-espécies e aos elementos que a compõem. Não é nada que se passe através da educação, por qualquer processo de aprendizagem ou que se possa herdar por qualquer outro veículo que não os genes do mesmo, que esses sim ditam a sua competência. E consequente sobrevivência.

Nadar é portanto uma apetência inerente ao colectivo e não ao indivíduo que a herda. De onde se retira que a expressão apenas pode ser aplicada de forma generalizada e não direccionada.

"Filho de peixe sabe nadar"...

O meu pai é cozinheiro e eu cozinheiro fui... e adoro cozinhar. Se cozinho bem ou se os meus pseudo-cozinhados sequer se aproximam da "haute cuisine" do meu pai, essa já é outra história. O meu pai é louco por motas e aqui escuso de traçar paralelismo. Todavia é curioso ter começado a andar de mota antes dele. Também o facto de ele ter sido instrutor de mergulho e eu mergulhar é apenas mais um elo de ligação. Um elo aberto, visto que até hoje, nunca mergulhámos juntos!

"Filho de peixe sabe nadar"...

Certo. Bate certo. Faz sentido. Onde está então o drama? Onde está a questão, o dilema, a tal conspiração que se esconde à espreita por trás de cada uma destas afirmações? Apenas estou a provar que o provérbio tem motivo de ser. Mas também nunca disse o contrário. Apenas que me intriga.

Pois... o problema reside em nunca ter vivido com o meu pai. Em nunca ter tido uma relação pai-filho convencional. Em nunca ter convivido ao longo da minha infância e adolescência com o meu pai e por conseguinte, nunca ter absorvido os seus gostos, apetências, inclinações... ou sonhos. Por não ter tido a sua força nem as suas direcções. Pela distância que nos separa. Por nos termos acabado por tornar pessoas tão iguais. E tudo isto porque partilhamos os mesmos genes? Como seria se tudo tivesse sido diferente? Seríamos ainda iguais? Iria acarinhá-lo? Iria sentir-me mais próximo? Desconheço. Mas uma coisa sei... o filho do meu pai sabe nadar!

1 comentário:

Moquinha disse...

Deves estar a questionar-te: "Mas ela sabe que eu tenho um Blog?" Sim sei :)e como gosto de ler bons e pertinentes textos, vim dar uma espreitadela...ora bem, isto faz-me tirar uma conclusão: filho de peixe que não nadou com o pai, sabe nadar!
Beijinho

P.S- A unica parte que não gosto nos blogs, é ter de introduzir os caracteres em baixo, a avaliar pelo desenho com a cadeira de rodas, julgo ser um teste ao nosso nível de deficiencia, como nunca acerto à primeira, começo a ficar preocupada...

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